Como
já comentei, anteriormente, sobre a minha recuperação que está sendo de muitas
lembranças.
Na
mesma época do senhor Sebastião, que já contei a sua história, duas quadras
dele morava o senhor Hildebrando, um homem baixinho, com o ofício de sapateiro,
destes de por meia sola no sapato como era usado na época, sisudo, mas de um
coração muito bom.
Hildebrando
não gostava de tomar banho, e a sua esposa dona Jandira falava que ele ficava às
vezes até seis meses sem tomar banho e as mulheres perguntavam a ela como
aguentava aquilo e ela respondia: “Ah! A
vida sempre tem suas compensações”.
Antigamente
os verdureiros vendiam nas casas e vinham carregando dois cestos, ou no carrinho
de mão, ou a cavalo e eram verdadeiras quitandas de verduras, e “seu”
Hildebrando não de queixava com ninguém.
Quando
os verdureiros passavam e as mulheres saiam para fazer as compras das verduras,
ali aconteciam altos papos e era assim que dona Jandira ficava sabendo das
notícias do dia anterior e contava para Hildebrando, ressaltando contava
somente que as outras falavam e não o que ela falava.
Toda
a vizinhança levavam os sapatos para consertar lá com o senhor Hildebrando que tinha
o seu comércio de consertar sapatos em sua casa mesmo, era uma casa enorme e
ele ocupava a sala da frente, que era grande demais e cheia de sapatos
consertados e para consertar.
Como
fiz amizade com o senhor Hildebrando, o senhor Sebastião o único amigo que ele
tinha, talvez, de um suportar o cheiro do outro. O senhor Sebastião me levava
muitas vezes junto e o senhor Hildebrando acabou me contratando para engraxar
sapatos, foi aí que comecei a ganhar alguns trocados para ajudar na família e
parei de trabalhar no mercadão de Ribeirão Preto.
Eu só trabalhava no sábado porque o senhor
Hildebrando era da religião que chamavam “sabatiza”, aí eu fui conhecendo-o a
fundo e ele ficou conhecendo a fundo o senhor Sebastião, por meu intermédio.
Uma
coisa que o senhor Hildebrando se gabava, era de ter filhos machos, falava com
tanto orgulho que um dia eu resolvi perguntar a ele o que ele tinha contra as
meninas e ele me respondeu: “- Você não
percebeu ainda, eu tenho sete filhos homens e até hoje estou lutando para ter
uma menina, menina é mais carinhosa, graciosa e minha esposa esta grávida
novamente” e ele falava: “Se for
menino outra vez eu paro”.
Dona
Jandira era uma mulher bonita, vistosa, e alta, a única hora que punha o nariz
na rua, como se dizia na época, era na hora de comprar verduras nos carrinhos
que por ali passavam sob a vigilância do senhor Hildebrando que ficava na porta
olhando. Ele tinha realmente muitos ciúmes dela.
Um
dia eu perguntei a ele se dessa vez seria uma menina o que ele faria, ele me falou: Que faria uma grande festa.
Eu
não pude participar dessa festa, porque quando ela nasceu o senhor Hildebrando
estava muito nervoso e o meu tio que recebia meu salário, porque veio faltando
alguns centavos, me lembro da surra que levei.
A
menina nasceu em um domingo e escutei o foguetório, na época, era comum quando nascia
uma criança o pai soltar foguetes, fiquei sabendo que era uma menina e fiquei
feliz por ele.
Quem
participou da festa foram os filhos, o senhor Hildebrando, o senhor Sebastião
com a dona Leonor. Fiquei sabendo que o senhor Hildebrando chorou pela minha
ausência, foi pedir para o me tio para ir à festa e aí ele ficou sabendo que eu
estava de castigo por ter pegado dinheiro adiantado, ele falou: Ele nunca pegou.
Então,
o senhor Hildebrando quis saber quanto faltou para completar, só que o meu tio
achou que ele estava querendo me defender, aceitando os centavos que faltava,
foi aí que me separei do senhor Hildebrando, no nascimento de Vitória, foi o
nome que ele deu para sua filha, passou a tomar banho todos os dias, cortar os
cabelos e fazer a barba normalmente.
Daí
passei a comerciar com duas cestas, vendendo tomates nas ruas. A vida da
família mudou totalmente, mas eu ia sempre visitá-los, quando ele estava
apertado eu engraxava os sapatos para ele até que mudou para o Rio de Janeiro e
lá montou uma sapataria “Solano”, que faz sapatos para todo o Brasil e para o
mundo, fundada pelo senhor Hildebrando, que veio desencarnar com oitenta e nove
anos.
Quem
assumiu a sapataria foi a Vitória e hoje são seus filhos, e os outros filhos
são: três engenheiros químicos, dois dentistas e dois médicos.
Um
abraço
Professor espiritualista Florêncio Antônio
Lopes
Graduado
Senhor-Mestre