quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SENHOR HILDEBRANDO



 Como já comentei, anteriormente, sobre a minha recuperação que está sendo de muitas lembranças.
Na mesma época do senhor Sebastião, que já contei a sua história, duas quadras dele morava o senhor Hildebrando, um homem baixinho, com o ofício de sapateiro, destes de por meia sola no sapato como era usado na época, sisudo, mas de um coração muito bom.
Hildebrando não gostava de tomar banho, e a sua esposa dona Jandira falava que ele ficava às vezes até seis meses sem tomar banho e as mulheres perguntavam a ela como aguentava aquilo e ela respondia: “Ah! A vida sempre tem suas compensações”.
Antigamente os verdureiros vendiam nas casas e vinham carregando dois cestos, ou no carrinho de mão, ou a cavalo e eram verdadeiras quitandas de verduras, e “seu” Hildebrando não de queixava com ninguém.
Quando os verdureiros passavam e as mulheres saiam para fazer as compras das verduras, ali aconteciam altos papos e era assim que dona Jandira ficava sabendo das notícias do dia anterior e contava para Hildebrando, ressaltando contava somente que as outras falavam e não o que ela falava.
Toda a vizinhança levavam os sapatos para consertar lá com o senhor Hildebrando que tinha o seu comércio de consertar sapatos em sua casa mesmo, era uma casa enorme e ele ocupava a sala da frente, que era grande demais e cheia de sapatos consertados e para consertar.
Como fiz amizade com o senhor Hildebrando, o senhor Sebastião o único amigo que ele tinha, talvez, de um suportar o cheiro do outro. O senhor Sebastião me levava muitas vezes junto e o senhor Hildebrando acabou me contratando para engraxar sapatos, foi aí que comecei a ganhar alguns trocados para ajudar na família e parei de trabalhar no mercadão de Ribeirão Preto.
 Eu só trabalhava no sábado porque o senhor Hildebrando era da religião que chamavam “sabatiza”, aí eu fui conhecendo-o a fundo e ele ficou conhecendo a fundo o senhor Sebastião, por meu intermédio.
Uma coisa que o senhor Hildebrando se gabava, era de ter filhos machos, falava com tanto orgulho que um dia eu resolvi perguntar a ele o que ele tinha contra as meninas e ele me respondeu: “- Você não percebeu ainda, eu tenho sete filhos homens e até hoje estou lutando para ter uma menina, menina é mais carinhosa, graciosa e minha esposa esta grávida novamente” e ele falava: “Se for menino outra vez eu paro”.
Dona Jandira era uma mulher bonita, vistosa, e alta, a única hora que punha o nariz na rua, como se dizia na época, era na hora de comprar verduras nos carrinhos que por ali passavam sob a vigilância do senhor Hildebrando que ficava na porta olhando. Ele tinha realmente muitos ciúmes dela.
Um dia eu perguntei a ele se dessa vez seria uma menina o que ele faria, ele me falou: Que faria uma grande festa.
Eu não pude participar dessa festa, porque quando ela nasceu o senhor Hildebrando estava muito nervoso e o meu tio que recebia meu salário, porque veio faltando alguns centavos, me lembro da surra que levei.
A menina nasceu em um domingo e escutei o foguetório, na época, era comum quando nascia uma criança o pai soltar foguetes, fiquei sabendo que era uma menina e fiquei feliz por ele.
Quem participou da festa foram os filhos, o senhor Hildebrando, o senhor Sebastião com a dona Leonor. Fiquei sabendo que o senhor Hildebrando chorou pela minha ausência, foi pedir para o me tio para ir à festa e aí ele ficou sabendo que eu estava de castigo por ter pegado dinheiro adiantado, ele falou: Ele nunca pegou.
Então, o senhor Hildebrando quis saber quanto faltou para completar, só que o meu tio achou que ele estava querendo me defender, aceitando os centavos que faltava, foi aí que me separei do senhor Hildebrando, no nascimento de Vitória, foi o nome que ele deu para sua filha, passou a tomar banho todos os dias, cortar os cabelos e fazer a barba normalmente.
Daí passei a comerciar com duas cestas, vendendo tomates nas ruas. A vida da família mudou totalmente, mas eu ia sempre visitá-los, quando ele estava apertado eu engraxava os sapatos para ele até que mudou para o Rio de Janeiro e lá montou uma sapataria “Solano”, que faz sapatos para todo o Brasil e para o mundo, fundada pelo senhor Hildebrando, que veio desencarnar com oitenta e nove anos.
Quem assumiu a sapataria foi a Vitória e hoje são seus filhos, e os outros filhos são: três engenheiros químicos, dois dentistas e dois médicos.

Um abraço


Professor espiritualista Florêncio Antônio Lopes
Graduado Senhor-Mestre